21/01/2009

Eu vi Barack Obama (Relatos da Posse)

Barack Obama mobilizou milhões de pessoas como evento da sua posse. Chamada pelos americanos de “Inauguration”, a cerimônia geralmente é uma solenidade, vista por algumas centenas de milhares de pessoas.

Mas o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos havia de fazer diferente. A imensurável popularidade de Obama fez os milhares se tornarem milhões, e a cerimônia, tanto como um evento quanto historicamente, se tornou gigante.

No dia 18, antes de ontem, um show inaugural estenderia o tapete para a posse de Obama, no dia 20. Esse show, realizado no Lincoln Memorial e que tomou grande parte do "Mall", até o Washington Monument (mais ou menos uma milha de distância).

750 mil pessoas, um número impressionante, foram ver apresentações de Beyonce, Mary J. Blige, Bono, Garth Brooks, Sheryl Crow, Renee Fleming, Josh Groban, Herbie Hancock, Heather Headley, John Legend, Jennifer Nettles, John Mellencamp, Usher, Shakira, Bruce Springsteen, James Taylor, will.i.am, e Stevie Wonder.

Intercalados com esses artistas, muitos deles tocando juntos, discursos de antigos presidentes, lidos por celebridades como Jamie Foxx, Steve Carrell, Jack Black, Denzel Washington (que facilmente se passaria por Obama) e Samuel L Jackson.

No final de todo esse espetáculo, o presidente eleito discursou.

E então, repentinamente, eu entendi todo o frenesi em torno de Barack Obama. Entendi o motivo de sua imagem ser alçada a um patamar de importância, misticismo e heroísmo comparado ao de Martin Luther King ou ao de Che Guevara.

Obama tem um discurso impecável, uma retórica impressionante, uma capacidade de convencimento e formação de adeptos totalmente fora do comum. Com seu discurso pró-mudança, com idéias de reformulação e melhoria em vários setores (que inclusive eu gravei), emocionou e inflou toda a massa.

Massa, que, ao sair, causou um pouco de tumulto, que na hora eu considerei muito. Setecentos e cinquenta mil pessoas sendo evacuadas é um bom estrago. O metrô estava abarrotado, mas conseguimos entrar e irmos para casa com relativa facilidade.

A grande cerimônia foi hoje, dia 20 de janeiro. O presidente Obama, e seu vice, Joe Biden, fizeram seus juramentos e discursaram, assumindo a posse do governo de Bush, para quase 3 milhões de pessoas.

3 milhões de pessoas. Você tem alguma idéia do que são 3 milhões de pessoas?

Quem viu pela televisão ou fotos tem uma vaga idéia do que é. Mas, informo: É muito mais do que você imagina. Tirei algumas fotos, fiz alguns filmes e entrevistei algumas pessoas para ter uma idéia melhor do acontecimento.

Para evacuar esse imenso número, e simultaneamente realizar o desfile do presidente, foram isolados cerca de dez quarteirões. Na hora de ir embora, mal conseguia me mexer no meio da massa. Bloqueios policiais, barreiras e desvios tornavam o esvaziamento mais e mais difícil. A pé, levei mais de duas horas para andar um percurso de inicialmente dez ou quinze minutos. E a multidão seguia, como formigas após atiçarem o formigueiro, andando e se espremendo pelas vias abertas pelas autoridades locais.

“Estamos mobilizando mais de mil oficiais apenas no nosso estado, e mais algumas agências de quatro ou cinco estados estão ajudando no esquema de segurança, inclined a Guarda National e a Polícia”, afirmou o sargento americano Cody Johnson, de 23 anos.

“É a primeira vez que nos envolvemos com este número imenso de pessoas. No entanto, tivemos meses de planejamento e treinamento para lidarmos com essa multidão”, disse Johnson.

A multidão agitou a cidade, inclusive no mundo dos negócios. A imagem de Obama estava por toda parte. Pôsteres, calendários, camisetas, bonés, gorros e até jogo de pratos e talheres com a cara do presidente estavam vendendo como água.

Mas até quem não tinha nada a ver diretamente com o evento se deu bem. O coreano Billy T. Lim, da Daily Market, pequena loja de conveniência perto da estação de metrô Farragut North, a mais próxima do local do evento, comemorou: “Os negócios estão indo muito bem esses dias, especialmente hoje. Estamos vendendo mais e temos muitos novos consumidores, de todos os lugares do país.”

Dentre essas 3 milhões de pessoas, era impossível ver quem era local e quem viajou apenas para estar ali. Brooke Johnson, funcionária da UPS de Indiana, a 12 horas da capital, veio só para ver o empossamento do presidente.

"Dirigi 12 horas, mas viria mesmo se morasse na Califórnia", diz Brooke. Outro viajante que partilhou da mesma idéia foi o pintor Julian Madyun, 63 anos, que viajou de Georgia, a 660 milhas de distância.

Madyun distribuiu cartões-postais de uma de suas pinturas, uma montagem de fotos de afro-americanos que fizeram história, como Michael Jordan, Tiger Woods, Oprah Winfrey, entre outros. No centro do cartão, Barack Obama e Martin Luther King, e a palavra “ Emancipation”.
“Estávamos vindo de um panorama muito ruim nos últimos oito anos, e agora escolhemos a mudança. Tenho a sensação de que esse governo será muito bom para todas as pessoas, os afro-americanos, assim como para europeus, latinos e todas as raças. É uma bênção de Deus", analisou o pintor, religioso.

A religião também esteve presente, tanto no discurso de Obama, que pregou o respeito e a união, quanto no evento em si. Católicos conservadores carregavam faixas com os dizeres "Homo sex is a sin", entre outros.

Quem também aproveitou a ocasião para protestar foi o Greenpeace, além de ativistas contra a prisão de Guantánamo, movimentos homossexuais e manifestações de exaltação aos negros.

Pessoas das mais variadas nacionalidades estavam presentes. Pude ver uma bandeira da Etiópia, uma de Gana, uma da República Dominicana, e tive a oportunidade de entrevistar alguns brasileiros.

Uma das pessoas que entrevistei foi Íris Lemos, 45 anos, brasileira nascida no Paraná que vive em Washington há quatro anos, mas está nos EUA "há muito tempo". Foi ao evento com a sobrinha Isabel, 13, a filha, e o marido.

Pró-Obama, Íris achou o evento todo muito organizado, e conseguiu aproveitar, apesar do frio de aproximadamente -10 graus Celsius.

“Eu queria pegar a cidadania americana só para votar no Obama, e infelizmente não consegui. Sou entusiasta do Obama faz tempo, antes mesmo dele se tornar candidato à presidência. Espero que ele continue com a mesma firmeza, inteligência e caráter que teve até hoje”, diz Íris.

Outras brasileiras também presentes, Ellen Belchior e Lorena Martins, ambas doutorando em Virginia, em Ciências Políticas e Relações Internacionais, respectivamente, também se mostraram muito otimistas em relação ao novo presidente.

“Com certeza, há essa expectative do mundo todo em relação ao governo de Barack Obama. A proposta da mudança, a perspectiva de uma melhora e, realmente, a esperança, estão muito fortes", afirma Ellen.

“Não tenho nem palavras para descrever a sensação que o Obama passa em seu discurso. Ele é muito fluente, possui uma retórica incrível, consegue despertar um grande sentimento na população”, analisa Lorena.

“O povo está com muita esperança de colocar em prática tudo aquilo que foi falado, o grande momento de mudança. Pela primeira vez na história, a população está se aliando e andando junto com o governo”, completa a brasileira. E a análise de Ellen parece estar correta, visto o número de adeptos do primeiro presidente afro-americano da história dos Estados Unidos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tá, mas cadê as tais fotos e vídeos?

(Vou ler o texto em duas partes, OK?)

Anônimo disse...

Ai, homem importante e cheio de historia pra contar!
hehehe...
=)